4/08/2013 - 02h30
Cidade do Vale do Paraíba recebe cerca de 700 besourinhos em 'fusqueata'
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RICARDO SENRA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
"O padre deve estar de saco cheio. Em vez de gente, a procissão é de Fusca!", berra o comerciante Hermes Tanajura, 62, tentando vencer as caixas de som que alternam versões eletrônicas dos refrões "alô, galera de cowboy" e "nóis capota mas não breca".
Homem de língua afiada, ele é o autor da corruptela Fuscunha, nome do encontro anual de Fuscas de Cunha (a 225 quilômetros de São Paulo). A quinta edição foi no fim de julho, um domingo feliz para Tanajura.
Sem apoio da prefeitura, a empreitada reuniu cerca de 700 besourinhos na cidade, segundo a organização.
E olha que ele concorreu com o evento religioso mais tradicional da região --a igreja Matriz celebrava a festa anual do Divino Espírito Santo, do calendário oficial da cidade.
Com terços nas mãos e olhos nos possantes, os peregrinos tiveram seu cortejo interrompido pela "fusqueata" --que acontecia simultaneamente à missa na praça principal de Cunha.
Do lado de fora da igreja, centenas de pessoas bebiam cerveja e gritavam "volta para casa!", "sai do caminho!" e "respeita o fluxo!". O alvo eram Monzas, Gols e Corsas que interrompiam a fila de Fuscas.
Música caipira, barraquinhas de comida e paquera entre jovens de chapéu de caubói tomavam conta do centro histórico da cidadezinha de 20 mil habitantes --10 mil na zona rural. Boa parte ovacionava os donos de Fuscas especiais.
E tinha para todos os gostos.
ROSA-CHOQUE
Do "cockpit" de um dos mais populares, a agente de saúde Cinira Gomes Santos, 55, acenava para os novos fãs. "Escolhi cor de rosa-choque para chamar atenção mesmo, é um sonho desde pequena", afirma.
A versão pink é bem aceita pelo marido. "Dirijo também, sem preconceito", conta o mecânico Elio Lopes dos Santos, 58, que há um ano comprou o carro para Cinira --um modelo 1978--, com ajuda dos filhos.
Engavetado no desfile, o ajudante geral Odair Monteiro, 26, contava com seu Fusquinha na hora da paquera.
"Já faturei muita menina bonita em Ubatuba", diz, a bordo de um cor de vinho com pintura purpurinada (micropontos de verniz fazem seu carro brilhar como se tivesse glitter). Odair lamenta: "Cunha tem mais Fusca do que bicicleta", por isso o tipo "não faz sucesso entre a mulherada".
Com os netos Felipe, 5, e Henrique, 3, o engenheiro aposentado Antônio Carlos Godoy, 66, desfilava lentamente, pilotando uma réplica de 1975 do Herbie --como foi batizado o carro de corrida que protagonizou o filme "Se Meu Fusca falasse" (1968).
Mas por que transformar o possante em personagem de cinema?
A justificativa é nobre. "Meu netinho Felipe ama o filme. No último aniversário dele, apareci de surpresa com o carro pintado. Ele amou, olha", conta o vovô, apontando para o pequeno serelepe do banco de trás.
Na outra esquina, em frente a um bar, uma cópia dos Fuscas usados pela polícia nos anos 1950 carimbava o título de mais fotografado da tarde. Pintado de preto e branco, com uma réplica de sirene feita de garrafa térmica e lanternas a pilha, o carro é o maior orgulho do advogado aposentado Sérgio Garcia, 78.
"O amor por carro velho nasceu comigo. Meu avô tinha um posto de gasolina, e eu abastecia os carros quando era criança", afirma, ao lado de seu "mecânico-restaurador" preferido, Adailton Gonçalves, 42.
"O projeto de restauro durou três anos", diz Gonçalves. Além de tempo, a reforma custou-lhe o casamento.
"Minha ex-mulher falou: ou o Fusca ou eu. Como os irmãos dela são metidos e só andam de carrão, escolhi os Fuscas."
SE OS FUSCAS FALASSEM
Tanajura, criador da Fuscunha, não quer mais a ajuda da prefeitura, que apoiou as edições anteriores. "Antes, a população rural nunca vinha. Dessa vez, pus junto com a festa do Divino para lotar."
Segundo o comerciante, a administração quer "capitalizar em cima, mas a Fuscunha é dos cunhenses".
Para o secretário de Cultura e Turismo local, Marivaldo Rodrigues, não é bem assim que a carruagem anda. "Esse homem queria cargo público, e nós não aceitamos."
Se é melhor com Tanajura ou prefeitura, só os Fuscas poderiam dizer. Na próxima, quem sabe perguntamos ao Herbie.

















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