sábado, 1 de março de 2014

Em clima de inferno astral, Rio não tem motivos para festejar seus 449 anos

Caos no trânsito, pane no sistema de sinalização, manifestações e arrastão marcaram os últimos dias

Jornal do BrasilCláudia Freitas
O mês de fevereiro foi completamente atípico para quem mora no Rio de Janeiro. Com a demolição do Elevado da Perimetral, a prefeitura colocou em prática o novo sistema de trânsito no Centro da cidade, que provocou duas semanas de intermináveis engarrafamentos. Além disso, a rotina do carioca foi desastrosamente afetada por outras falhas decorrentes de uma notável  falta de planejamento: pane no sistema de sinais de trânsito, desapropriação que culminou em manifestações e fechamento da Avenida Francisco Bicalho, uma das principais vias de acesso ao Centro, e até blitz policial na Linha Vermelha em pleno horário do rush da manhã.
Para os mais místicos, a cidade que completa neste sábado (1/3) os seus 449 anos de fundação pode ter passado pelo seu período de inferno astral. Assim como na teoria astrológica, que diz que as energias positivas são derrubadas nos dias que antecedem o aniversário, o Rio de Janeiro também sentiu os efeitos desastrosos de uma "derrubada", mas foi de uma das suas principais via expressa, o Elevado da Perimetral. Segundo os especialistas em transportes, os transtornos causados pelas mudanças feitas pela prefeitura como parte do projeto Porto Maravilha e Trânsito Inteligente são irreparáveis até a entregadas obras do Túnel do Binário e o Túnel da Via Expressa.  
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"Ficamos sem alternativa de acesso para o Centro, porque as vias disponíveis não possuem capacidade para suportar o trânsito da perimetral, que tinha quatro faixas largas. A Via Binário é estreita e tem apenas três faixas. Os engarramentos são inevitáveis", avalia Alexandre Roujas, especialista em Transportes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Roujas acredita que o colapso no trânsito foi consequência de um cronograma equivocado da prefeitura, que realizou as mudanças nas vias principais antes do término das obras previstas em função da demolição da Perimetral.
Com as alterações do trânsito no Centro provocadas pelo fechamento definitivo da Perimetral, na última semana de janeiro, o tempo de deslocamento dos trabalhadores mudou e eles passaram a ficar por longos períodos presos nos congestionamentos ou procurando pelos novos locais de pontos de ônibus. Quarenta e oito linhas de ônibus municipais e intermunicipais tiveram os seus itinerários alterados. "Os governantes do Rio estão seguindo o exemplo dos líderes romanos na 'Política do Circo e Pão'. Querem preparar a cidade para os megaeventos, que por sinal a grande parte da população não vai assistir em função dos preços altos dos ingressos. O prefeito escolheu a pior hora para mexer na cidade, é carnaval, preparativos para a Copa e tudo ao mesmo tempo. Acabaram com os pontos de ônibus tradicionais, alteraram os trajetos, enfim, causaram um transtorno na vida da população", disse o securitário Leonardo Avelino Silva, que acredita que a cidade não tem nada a comemorar no dia do seu aniversário.
E com a chegada do Carnaval 2014, a prefeitura operou mais mudanças no trânsito do Rio. Trechos das avenidas mais movimentadas, a Presidente Vargas e a Rio Branco, já foram interditados na manhã desta sexta-feira (28), para a passagem dos carros alegóricos. Resultado: engarrafamentos e rotas alternativas para os motoristas já escaldados com as últimas semanas de caos. 
Mas nem tudo pode estar perdido para o carioca. Assim como existe o inferno astral, também há o chamado paraíso astral, que segundo os astrólogos acontece no sexto mês após o aniversário, no caso do Rio de Janeiro, em setembro, vésperas das eleições majoritárias. Porém, para o prefeito Eduardo Paes, talvez a onda de energia positiva do paraíso astral seja apenas um vislumbre, já que seu aniversário é comemorado em novembro e ele estará passando pelo seu inferno astral particular. 

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