segunda-feira, 14 de outubro de 2013

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'Pior do mundo' no futebol, Íbis quer aprender a vencer todas no basquete

Vice-lanterna do Estadual, tradicional clube pernambucano dá os primeiros passos nas quadras e revela ambicioso projeto de formação de novos atletas

Por Rio de Janeiro
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“O pior time do mundo, “the worst team in the world”, “el peor equipo del mundo”. O notório título que acompanha o Íbis Sport Club extrapolou os limites do munícipio de Paulista, na região metropolitana do Recife, e adquiriu contornos globais depois que a equipe pernambucana passou a acumular recordes negativos no Guinness Book. O resultado nos gramados de futebol continua deixando a desejar, mas o clube fundado em 1938 resolveu arriscar a sorte nas quadras de basquete para tentar reverter a má fama que já o representa por todo o planeta.
Criado oficialmente em abril, o Íbis Basquete ainda “comemora” os resultados do primeiro turno do Campeonato Pernambucano. Após oito rodadas, a equipe idealizada pelo estudante de Educação Física William Souza aparece na vice-lanterna da competição, com sete derrotas - incluindo o placar de 116 a 27 para o Sport - e uma “heroica” vitória - sobre o Sparta, por 58 a 47. Mas os jogadores e a comissão técnica não se deixam abater pelo desempenho irregular apresentado até agora. Com um discurso baseado no otimismo, o time estreante quer sobreviver à fase de mata-mata do torneio e garantir uma vaga para o quadrangular final.
mosaico Íbis basquete (Foto: Editoria de Arte)
- Este ano, o nosso principal intuito é participar e mostrar para todos que existimos, que temos um projeto e que nosso grupo é muito bom. Aos poucos, apesar das dificuldades, estamos evoluindo. Vamos para o mata-mata com boas chances de avançarmos para o quadrangular final. O cenário do basquete de Pernambuco é dominado por Sport Clube e Náutico, mas vamos nos preparar para que possamos brigar por um lugar no pódio. Estamos no fim do ano e já entramos no planejamento para 2014, e teremos mais algumas competições em vista - avaliou o criador do time.
O Íbis cruzou o caminho de William Souza quase por acaso. Na reta final do curso de Educação Física, o estudante pernambucano decidiu tocar um projeto de criação de uma equipe adulta para disputar o Estadual de Basquete. No entanto, a ideia esbarrou na imensa burocracia para a filiação do novo clube. CNPJ, registro formal, sede fixa e estatuto próprio foram alguns dos itens exigidos pela Federação Pernambucana de Basquetebol. Mas William não desistiu e, após um encontro com o presidente do Pássaro Negro, Ozir Ramos, resolveu vincular sua equipe de basquete ao “pior time do mundo”.
O idealizador da equipe de basquete garante que nunca temeu a “carga negativa” que a grife Íbis carrega no universo do futebol. Pelo contrário. Para William, a fama internacional do Íbis tem potencial para se converter em novos patrocínios e gerar mais visibilidade para o grupo. Por enquanto, a diretoria de futebol do clube não tem condições de arcar com o projeto. Todos os gastos, incluindo a quadra alugada para os treinos e os uniformes usados pelos jogadores, são bancados por empresas parceiras capitaneadas por William. E o criador do time afirma que o “selo Íbis de qualidade” ajudou na empreitada.
Maioria dos jogadores do Íbis tem outras profissões fora das quadras (Foto: Divulgação)Maioria dos jogadores do Íbis tem outras
profissões fora das quadras (Foto: Divulgação)
- O Íbis foi fundado em 1938, então tem uma longa história, está presente na memória de todos que conhecem um pouco de futebol, mesmo tendo o título de “pior do mundo”. É uma instituição séria, que honra os compromissos e revela jogadores para o Brasil e exterior. E o principal: é uma ótima forma de divulgar ainda mais a tradicional equipe de Pernambuco conhecida no mundo inteiro. Tivemos uma repercussão muito positiva da torcida, que adorou a ideia de ver o clube ser representado em outra modalidade e já temos vários pedidos de camisas para vender - relatou William Souza.
Apesar de estar dando apenas os primeiros passos no basquete, o Íbis já tem um projeto ambicioso para as quadras. O NBB ainda é um sonho distante, mas o clube pretende disputar em breve a Supercopa Nordeste e a Copa Sesc, em Alagoas. A participação em um campeonato que será realizado em Salvador já está na fase final de negociações. Enquanto isso, a equipe sub-19 do masculino já recebeu o aval dos apoiadores e começará a disputar amistosos para representar o clube em torneios regionais. Também há planos para a criação de uma equipe feminina e de times das categorias base, incluindo a abertura de uma escolinha para jovens a partir dos 10 anos no início do próximo ano.
- Nosso objetivo a longo prazo é participar da iniciação do basquete e formar novos atletas para o adulto. Essa formação estará presente para que possamos um dia ter um atleta reconhecido, em evidência no país, que se iniciou no Íbis Sport Club. Para isso, vamos trabalhar a didática da aprendizagem. No nosso grupo, temos professores e estudantes de Educação Física, fisioterapeuta e psicólogo esportivo à disposição dos atletas, todos atuando de forma voluntária - explicou o criador do time.
Íbis Basquete e Miami Heat: parceria possível? (Foto: Divulgação/Íbis)Íbis Basquete e Miami Heat: parceria possível? (Foto: Divulgação/Íbis)
No futebol, o ídolo máximo da torcida do Pássaro Negro continua sendo o ilustre meio-campo Mauro Shampoo, que fez apenas um gol durante os 10 anos em que defendeu a camisa do Íbis. Mas William aposta no potencial dos jogadores de basquete para que os novos ícones da história do clube pernambucano surjam nas quadras. A equipe tem atletas com idades entre 20 e 36 anos e conta até mesmo com dois gringos no elenco, um de Suriname e outro de Cabo Verde. O time foi formado com convites feitos a atletas que estavam sendo subaproveitados em outras equipes, além de jogadores que estavam parados. A maioria concilia o esporte com outras profissões, e nenhum tem o basquete como fonte de renda principal.
- Convidamos atletas de outras equipes e outros que estavam parados, e fomos renovando essa formação original. O Wallace Reis, um dos nossos armadores, é um atleta muito rápido. Nossos pivôs Dã Alles e Eduardo Melo são bastante experientes e aplicam muito bem os fundamentos. Na lateral, temos uma relação de ótimos atletas: Fabricio, Luigi Marchi, André Oliveira, Rodrigo Lins. Irish Stevenson, um dos gringos do nosso time, veio do Suriname. O outro é Anderson Santos, que veio de Cabo Verde. Todos têm um histórico no basquete, com algum titulo no currículo, sendo por clube, colégio ou universidade. Nenhum dos nossos atletas vive de basquete. Apenas amam muito esse fantástico esporte - destacou William.
Time de basquete do Íbis treina em uma quadra alugada no Recife (Foto: Divulgação/Íbis)Time de basquete do Íbis treina em uma quadra alugada no Recife (Foto: Divulgação/Íbis)
Origem da fama
A fama de “pior clube do mundo” começou no final dos anos 1970, quando o Íbis enfrentou sua pior fase no futebol. O tradicional clube pernambucano ficou três anos e 11 meses sem conseguir vencer - “façanha” que lhe rendeu um registro no Guiness Book, o livro dos recordes. O time, no entanto, tratou de usar a marca negativa a seu favor, e adotou a frase “O pior time do mundo” em seu uniforme oficial. A partir de então, o Íbis se tornava conhecido em todo o planeta.
Apesar disso, o Pássaro Negro teve seus momentos de glória, principalmente nos primeiros anos de vida. O atacante Vavá, campeão mundial pela seleção em 1958 e 1962, e o lateral esquerdo Rildo, convocado para representar o Brasil na Copa de 1966, atuaram com a camisa do clube pernambucano no início de carreira. Muitas décadas depois, quando a alcunha de “pior do mundo” já estava consolidada, o time conseguiu mostrar que ainda era capaz de vencer uma sequência de jogos e faturou o vice-campeonato da segunda divisão do Pernambucano de 1999.
Mauro Shampoo ìbis (Foto: Reprodução SporTV)Com um gol em 10 anos, Mauro Shampoo é o ídolo máximo do Íbis (Foto: Reprodução SporTV)

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