Criatividade16/09/2013 | 05h11
Artista cria esculturas gigantes a partir de objetos reciclados
Kenny Irwin Jr. exibe suas obras impressionantes na propriedade de seu pai
Steven Kurutz
Kenny Irwin Jr. certamente não é um daqueles artistas meditabundos e criativamente bloqueados: basta dar uma olhada no quintal da casa do pai dele para ter certeza disso. Ken Irwin Sr. já foi o dono de um terreno maravilhoso de quase um hectare em uma área nobre da cidade. Então ele tomou a decisão generosa – ou inadvertida, dependendo do ponto de vista – de usar o terreno para montar e exibir as esculturas impressionantes e gigantescas que Kenny Jr. cria ao misturar toneladas de cola aos materiais que encontra por aí. Agora, a obra "Santa's Battle Wagon" (O trenó de guerra do Papai Noel, em tradução livre) e um grupo de 12 renas robóticas ocupam um pedaço do terreno próximo à piscina, ao passo que um robô de 15,2 metros de altura e 54 toneladas feito a partir de produtos eletrônicos jogados no lixo tira a atenção da bela paisagem desértica.
Além disso, nem pense em jogar alguns sets na quadra de tênis da família.
— Agora ela é um vilarejo de elfos, com elfos nucleares, extraterrestres, pós-apocalípticos — afirmou Kenny Jr., enquanto levava um visitante para passear pela paisagem que lembrava o cenário de um filme de Tim Burton. Usando uma camisa shalwar bege, e barba longa (ele se tornou muçulmano há uma década), Kenny Jr., de 39 anos, tinha o sorriso alegre de uma criança que ganhou uma caixa de areia gigante para brincar.
Georgia Eisner, sua irmã mais velha, relembra como ele tomou conta do quintal há alguns anos, quando roubava as coisas dela para usar nas obras de arte enquanto ela estava no colégio interno.
— É óbvio que minha máquina de escrever acabou em uma de suas estruturas. Minha coleção de conchas desapareceu, ele colou tudo na parede — contou.
Lembrando o quanto ficava exasperada, ela acrescentou:
— Eu me perguntava por que não podia ter um irmão normal, que praticava esportes. Ele era um esquisitão que sempre brincava sozinho e conversava sobre outros planetas —
As ideias de Kenny Jr. surgem todas de uma vez, explicou, inspiradas por sonhos vívidos com alienígenas e planetas distantes. Seu maior desafio é acompanhar todas as ideias.
— A quantidade de energia que passa por mim é absolutamente interminável. Imagine que as comportas fossem abertas, mas que a água nunca parasse de fluir. Foi assim minha vida toda — afirmou.
Durante muitos anos, sua energia criativa foi canalizada para a obra "Robo Lights", uma exposição de fim de ano que começou a criar em 1986, aos 12 anos, e que nunca parou de crescer. No ano passado, 20 mil pessoas visitaram a instalação, que conta com a Santa's Pink Robot Store (A loja de robôs cor de rosa do Papai Noel) e um presépio com um Menino Jesus de calção de sumô e um rei-mago que traz aparelhos de micro-ondas de brinquedo como presente.
Twin Palms, a propriedade que pertencia a Frank Sinatra a algumas quadras dali, torna-se cada vez menos a principal atração do bairro.
Em outubro, uma versão para ambientes fechados de "Robo Lights" será exibida no American Visionary Art Museum, ou AVAM, em Baltimore, afirmou Rebecca Alban Hoffberger, diretora e fundadora do museu. A obra de Kenny Jr. fará parte de uma exposição sobre tecnologia chamada "Humanos, Alma e Máquina: A Singularidade Futura".
— Kenny é uma das poucas pessoas que continuam a me fascinar. Existem muitos trabalhos de ficção científica por aí e todos eles são meios parecidos. A obra dele não se parece com a de ninguém — afirmou Hoffberger.
Como um centro de reciclagem de um homem só, Kenny Jr. coleta telefones velhos, fitas cassete, madeira, mecanismos de máquinas caça-níqueis, tampas de lixeiras, filtros de piscina, o planador quebrado de um vizinho, o compressor de ar de um prédio comercial – qualquer coisa que caia em suas mãos, basicamente –, usando latas e mais latas de selante Touch 'n Foam para dar forma a suas visões. Suas esculturas lembram Seurat: um cavalo Clydesdale cor de rosa parece monumental à distância; de perto, o espectador descobre que os cascos são feitos de velhos monitores de computador, a cabeça nobre de uma impressora e uma máquina de fax coladas, e a crina de cabos de força.
Alienígenas, robôs e monstros aparecem entre as obras de Kenny Jr. com uma frequência obsessiva. Entretanto, ele afirma que sua inspiração não vem de revistas em quadrinhos nem de filmes B. As esculturas de robôs são "criações geradas instantaneamente e que passam pela minha cabeça".
— Eu sei exatamente como quero que fiquem, vou lá e faço — afirmou.
Para Kenny Jr., que demonstrava mais afinidade com animais do que com pessoas quando era criança, a arte é uma tentativa de se conectar.
— A principal razão que me levou a criar é a vontade de compartilhar com os outros. Eu sempre percebi o prazer que minha arte causa nas pessoas. Isso me deixa feliz porque os outros ficam felizes — afirmou.
Ken Sr., um senhor aposentado de 83 anos, foi durante muitos anos empreendedor imobiliário e dono do La Mancha, o resort da cidade, cujas casas privativas eram populares entre celebridades como Elizabeth Taylor. Ele tem 10 filhos e Kenny Jr. é o segundo mais novo, filho da segunda esposa de Ken Sr., Suzanne Rosenbloom, falecida em 1994.
Embora o talento artístico de Kenny Jr. fosse aparente desde quando era pequeno, ele sempre teve dificuldades para canalizá-lo. Eisner afirmou que a personalidade do irmão podia ser "muito combativa", e recorda que ele foi expulso de muitos internatos.
Kenny Jr. explica que seus educadores "não gostavam que eu fizesse arte. Eram contrários e, por isso, eu sempre era expulso".
Entre os membros da família, as opiniões sobre como lidar com a fixação de Kenny Jr. pela prática artística são bastante divididas, afirmou o pai. Há quem acredite que Ken Sr. é muito permissivo com o filho e que seria mais saudável que Kenny Jr. fosse viver em um lugar só dele. Eles também questionam a viabilidade do futuro da carreira artística do filho. Algumas das obras de Kenny Jr. parecem insondáveis, como "Microwave Theater", uma série longa de vídeos para a internet nos quais ele derrete aparelhos eletrônicos no micro-ondas. (Até o momento, ele já gravou 660 episódios repetitivos.)
Ken Sr. tem um ponto de vista diferente.
— Algum dia ele pode viver disso. Mas essa não é sua motivação. Ele está criando coisas — afirmou.
— Não sou bobo nem bonzinho por deixá-lo usar a propriedade. Ele é um artista naturalmente criativo. Para fazer uma obra, ele chegou a desmontar uma geladeira. Você consegue imaginar alguém desmontando uma geladeira? Seria um crime se eu reprimisse suas habilidades criativas — acrescentou o pai.
De sua parte, Kenny Jr. afirmou que não tinha "palavras para agradecer ao pai" pela liberdade financeira que tinha para trabalhar em suas obras, nem pelo espaço no qual pode fazê-las.
— Sem isso, as coisas não estariam bem — afirmou.
Com a ajuda de seu mecenas, Kenny Jr. não precisa pagar o aluguel da elegante casa em estilo espanhol onde ainda dorme no mesmo quarto desde que era criança, apelidado por Ken Sr. de "O Casulo". O quarto com pé-direito baixo é cheio de pedras e crânios que Kenny Jr. colou nas paredes e um monitor de computador gigante brilha sinistramente à meia luz, como o console central de uma nave espacial.
No vale de Coachella, lar de campos de golfe e aposentados, é difícil ver adesivos de para-choque que digam "Deixem Palm Springs Ser Estranha". Em oposição a arquitetura de linhas retas de meados do século XX, pela qual a cidade é famosa, colocar dois robôs cor de rosa de 1,8 metro no jardim é o mesmo que hastear a bandeira da loucura.
A esperança para Kenny Jr. e para os membros da família que o apoiam é que ele ganhe um público e um espaço que vá além do quintal da casa do pai. Porém, na maioria das vezes ele é a única pessoa a caminhar por entre as esculturas. Em pé, em um dos cantos do quintal, ouvindo-o descrever sua nova instalação, um visitante teve um pensamento assustador. O que fazer quando o espaço acabar?
Kenny Jr. afastou a preocupação:
— Isso só vai acontecer daqui a muitos e muitos anos. Até lá eu espero encontrar outras saídas para minhas obras, como museus e outras cidades — afirmou.
Então, ele se voltou para sua obra mais recente.
— Agora, esse robô foi feito apenas com seis cabos de força. Eles foram colados e presos com arame. O nome dele é 'Electro-bot' — afirmou.
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