sexta-feira, 28 de junho de 2013

'Nunca fui fã de política', diz músico que convocou greve geral na segunda

Acusado pela CUT de ajudar a ação de "grupos oportunistas", músico nega relação com partidos e critica impunidade a corruptos

Criador do evento que convocava greve geral para o dia 1º de julho quer fim de protestos violentos Foto: AP
Criador do evento que convocava greve geral para o dia 1º de julho quer fim de protestos violentos
Foto: AP
  • Marcelo Miranda Becker
Criador do evento no Facebook que angariou o apoio de mais de um milhão de internautas para a convocação de uma greve geral no dia 1º de julho, o músico Felipe Chamone se vê no centro de uma onda de especulações quanto à real motivação para os protestos. Desautorizado pela Força Sindical e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) - que vê no anúncio da greve geral a ação de "grupos oportunistas" que pretendem gerar insegurança na população -, Chamone nega relação com qualquer partido. "Nunca fui fã de política", afirmou o músico em entrevista exclusiva para o Terra.
Crítico da classe política e avesso a perguntas sobre sua orientação partidária, Chamone afirma que tinha como objetivo colaborar com uma alternativa às manifestações violentas no País. "Foi a forma que eu vi de poder ajudar nessa transformação do Brasil, sem que o pessoal precisasse ir pra rua quebrar pau, com esses manifestos violentos que estão ocorrendo aí. Foi uma forma mais pacífica de fazer essas reivindicações", justificou.
Eu acho que se a gente ficar simplesmente indo para a rua, vai continuar confusão demais. Acho que a gente tinha que parar geral o Brasil
Felipe Chamonemúsico, criador do evento 'Greve Geral' no Facebook
"Eu acho que se a gente ficar simplesmente indo para a rua, vai continuar confusão demais. Acho que a gente tinha que parar geral o Brasil. Se os políticos não trabalham para nós, nós também não vamos trabalhar para eles", sugere Chamone, que diz não ter "a mínima ideia" de como será a adesão à greve proposta por ele. "Da mesma forma que eu fui surpreendido com o sucesso do evento, eu não sei como vai ser no dia 1º. Vai ser uma surpresa para mim também."
Sobre os motivos que causam a sua indignação, o músico foi, inicialmente, evasivo. "São tantas coisas que não dá para listar agora. Várias", afirmou. Após insistência, decidiu exemplificar: "roubalheira que tem no governo, imposto muito alto, nada funciona direito. A gente paga IPVA e depois tem que pagar pedágio também. Eu acho que muitas coisas estão erradas". Questionado sobre o governo, porém, decidiu não direcionar suas críticas à presidente Dilma Rousseff. "Eu acho que a responsabilidade não é de uma pessoa, a responsabilidade é de um todo. Então eu não vou falar dela", disse o manifestante.
Agora já não está mais na minha mão, está na mão do povo
Felipe Chamone
Apesar de toda a mobilização em torno de seu evento, Chamone ainda não sabe se participará de algum protesto nas ruas de Belo Horizonte (MG), onde mora. "Eu simplesmente vou parar na segunda-feira", disse o jovem, que trabalha, segundo informa em seu perfil no Facebook, como "ator, cantor, músico, compositor, produtor musical e de eventos, técnico em áudio e vídeo, cineasta, fotógrafo, apresentador de TV, assessor de mídia e membro do conselho da Confederação Brasileira de Tiro Defensivo (CBTD), empresário , e tudo aquilo que me der vontade de fazer".
Chamone afirma que não é mais responsável pela organização dos protestos marcados para segunda-feira. "Eu perdi o contato com todo mundo. Assim que eu coloquei (no Facebook) o local das manifestações, o evento saiu do ar. Tinha colocado que em cada cidade as pessoas fossem para a porta da Câmara Municipal e, em Brasília, no Congresso. (...) Na verdade, eu sugeri a ideia, e o próprio pessoal que apoiava começou a criar outros eventos. Agora já não está mais na minha mão, está na mão do povo", declarou.
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'Greve geral é fria', dizem centrais sindicais
A repercussão do evento nas redes sociais gerou uma onda de boatos e obrigou as principais centrais sindicais do País a se manifestarem oficialmente sobre a possibilidade de uma grande greve nacional. A Força Sindical e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) foram enfáticas ao garantir que não há qualquer paralisação programada para a próxima segunda-feira. "(O ato de) 1º de julho não é do movimento sindical, de nenhuma central, não é de nenhum sindicato, não é de nenhuma federação. É fria", alertou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
Segundo o dirigente, os eventos agendados pelas redes sociais estão criando informações desencontradas que não correspondem com a realidade. "O Facebook é apenas uma rede social, qualquer um escreve o que quiser. O trabalhador deve seguir a orientação do seu sindicato", afirmou. "Quem convoca greve geral é sindicato e não eventos do Facebook", afirma a CUT em nota.
O Facebook é apenas uma rede social, qualquer um escreve o que quiser. O trabalhador deve seguir a orientação do seu sindicato
João Carlos Gonçalves, o Jurunasecretário-geral da Força Sindical
"Nem a CUT nem as demais centrais sindicais, legítimas representantes da classe trabalhadora, convocaram greve geral para o dia 1º de julho", diz o texto da central sindical, que acusa "grupos oportunistas" pela criação do evento no Facebook. "A convocação para a suposta greve geral do dia 1º, que surgiu em uma página anônima do Facebook, é mais uma iniciativa de grupos oportunistas, sem compromisso com os/as trabalhadores/as, que querem confundir e gerar insegurança na população. Mais que isso: colocar em risco conquistas que lutamos muito para conseguir, como o direito de livre manifestação", afirma a CUT. "É preciso tomar muito cuidado com falsas notícias que circulam por meio das redes sociais", completa a nota.
Questionado sobre as acusações de "oportunismo" por parte da CUT, Chamone afirmou que "não obrigou ninguém a participar do evento". "É a opinião deles da CUT. Quando eu criei a greve, eu não estava seguindo uma lei. A gente simplesmente estava querendo parar mesmo. Foi onde um milhão de pessoas disseram que concordavam que tinha que parar mesmo, independente de sindicato, independente de qualquer coisa", alegou o músico.
Tanto a CUT quanto a Força Sindical farão uma grande mobilização no dia 11 de julho. "O movimento sindical não está nessa brincadeira do dia 1º de julho. Todo o movimento sindical, todas as centrais sindicais do nosso País estão convocando para o dia 11 de julho", disse Juruna. Segundo a CUT, a mobilização do dia 11 de julho não tem caráter de greve geral e prevê manifestações em todo o País por melhorias para a classe trabalhadora.

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