sexta-feira, 26 de julho de 2013

25/07/2013 21h17 - Atualizado em 25/07/2013 21h29

Vídeo mostra Bruno sem bomba na hora em que coquetel é lançado

Estudante foi preso na 2ª, acusado pela PM de ter atirado coquetel.
No dia seguinte, foi solto. Cabral disse nesta 5ª que caso será investigado.

Glauco AraújoDo G1 Rio
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Detalhes do vídeo postado no YouTube que mostra Bruno fora do local de onde saiu a primeiro coquetel molotov. (Foto: Reprodução/YouTube)Detalhes de vídeo no YouTube que mostra Bruno fora do local de onde saiu a primeiro coquetel molotov. No segundo quadro, Bruno derruba grade. No quarto, faíscas do coquetel partem de posição atrás de Bruno. (Foto: Reprodução/YouTube)
Um vídeo que começou a circular nas redes sociais nesta quinta-feira (25) mostra o estudante Bruno Ferreira Telles, de 25 anos, sem artefatos ou mochila no momento em que um coquetel molotov é lançado contra policiais militares em frente ao prédio do Palácio da Guanabara, na segunda (22), no Rio. Houve confronto na manifestação, e sete pessoas foram presas.

Bruno foi preso e acusado de ter lançado o primeiro explosivo contra os PMs. "Foi ele que tacou o primeiro coquetel molotov", disse um dos policiais na hora da prisão do manifestante. No novo vídeo, disponível emyoutube.com/watch?v=CPdJuQf3WMk, não está claro se a bomba que aparece sendo lançada foi a primeira.
Vídeos postados no YouTube estão sendo usados por manifestantes para defender Bruno, que foi libertado na terça (23) após o Tribunal de Justiça conceder um habeas corpus. Nos vídeos, a PM é acusada de infiltrar policiais sem farda nos protestos.
Na manhã desta quinta (25), o governador Sérgio Cabral disse que não sabia de policiais infiltrados em manifestações e anunciou que a prisão do estudante será investigada (saiba mais).
O novo vídeo
Além de mostrar que Bruno não estava com artefato na mão na hora em que um coquetel foi lançado, o vídeo indica que Bruno foi um dos manifestantes que derrubaram as grades que faziam o isolamento entre manifestantes e Tropa de Choque.
Procurada novamente pelo G1 nesta quinta-feira (25), a Polícia Militar voltou a afirmar que "prendeu em flagrante Bruno Ferreira, sob acusação de ter atirado o coquetel molotov que deixou dois policiais com queimaduras no corpo." Ao contrário do que ocorreu na hora da prisão, a PM não detalhou em qual momento ele teria lançado coquetel. A PM não deu mais informações sobre o estado de saúde dos PMs feridos e não autorizou que eles concedessem entrevistas.

Cabral afirmou que, no caso da prisão de Bruno, será apurado se ele jogou coquetel molotov ou se não portava nenhuma artefato. "Tudo isso tem que ser motivo de averiguação porque ninguém tem interesse de punir inocentes", disse o governador.
'Realidade nos vídeos', diz mãe
Mãe de Bruno, a dona de casa Maria de Lourdes Ferreira Telles afirma que seu filho é inocente das acusações de portar e lançar artefatos. Em entrevista ao G1, ela afirmou que as filmagens comprovam que o filho é inocente. "A realidade está nos vídeos. Ele estava reivindicando os direitos dele, os diretos de todos nós", disse.
"É um exagero o que fizeram com ele, mesmo ele indo lá na frente incitar, participar da passeata. O Bruno é tranquilo, é de família, tem uma namoradinha, sai só com a família", disse Maria de Lourdes.
É um exagero o que fizeram com ele, mesmo ele indo lá na frente incitar, participar da passeata. O Bruno é tranquilo, é de família, tem uma namoradinha, sai só com a família"
Maria de Lourdes Ferreira Telles,
mãe de Bruno, manifestante preso pela PM
A mãe do jovem afirmou ainda que o filho não sai mais de casa depois do ocorrido. "Ele está tomando remédio controlado, tarja preta. Ele está abalado, não consegue falar direito, está tomando calmante. Chamei a atenção dele para não participar mais dos protestos, a família toda está sentida com o ocorrido", disse Maria de Lourdes.
A dona de casa disse que o filho faz estágio voluntário na UERJ em uma área de produção de vídeos. "Lá mesmo ele faz um curso para prestar vestibular. Ele concluiu o 2º grau", afirmou a mãe de Bruno.
Maria de Lourdes falou também que o marido está mais revoltado com a situação vivida pelo filho e, apesar do local onde trabalha, não está sofrendo represálias. "Ele trabalha há 35 anos em uma loja de fardas para a Marinha, polícias Militar e Civil. Foi o primeiro emprego dele."
Inquérito policial
O depoimento do policial militar que prendeu o estudante Bruno contraria todas as notas divulgadas pelas polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro na noite de protesto e no dia seguinte. A declaração do policial consta de inquérito - ao qual o Jornal Nacional teve acesso com exclusividade - sobre a prisão de Bruno, que foi preso sob a suspeita de lançar coquetéis molotov contra policiais.
Em nota, a Polícia Militar diz que as "informações divulgadas pela corporação são obtidas a partir dos relatos dos policiais que atuam no local das manifestações e mais tarde checadas com os registros feitos em relatório."
O texto diz ainda que "em relação às manifestações em frente ao Palácio Guanabara, no dia 22 de julho, a Polícia Militar divulgou uma primeira nota na manhã do dia 23 de julho com o seguinte teor: 'Sete pessoas foram presas, uma delas com 20 coquetéis molotov'. A corporação explicou que, partindo desta informação, a PM não Atribuiu "a um dos presos especificamente a posse dos artefatos."
A nota informa ainda que "mais tarde, a Polícia Militar divulgou a nota: 'A PM prendeu em flagrante Bruno Ferreira, sob acusação de ter atirado o coquetel molotov que deixou dois policiais com queimaduras no corpo.'
A PM volta a dizer que não atribuiu ao Bruno Ferreira a posse do artefato, "mas que é certo que foi identificado como aquele que arremessou um coquetel molotov contra a tropa, sendo preso e autuado em flagrante delito."
A corporação também informa que "no twitter do Comando de Operações Especiais (COE) @COE_PMERJ a postagem: 'Bruno Ferreira foi preso por ter jogado as primeiras bombas na direção dos policiais.' Tal mensagem foi reproduzida mais tarde no twitter oficial @pmerj.
Madrugada na cadeia
O juiz do plantão daquela noite, que negou o pedido relaxamento da prisão em flagrante de Bruno, argumentou que, pela narrativa dos policiais militares que o prenderam, o estudante teria cometido o crime de resistência e de lesão corporal. Citou ainda que Bruno teria dado um soco no pescoço e uma unhada em um dos policiais, havendo assim prova de existência dos crimes. Bruno passou a madrugada na cadeia.
Na manhã de terça-feira (23), o presidente da comissão criada pelo governo do Rio de Janeiro para investigar os atos de vandalismo declarou que o Ministério Público ia denunciar o manifestante por tentativa de homicídio.
“Quem atira um coquetel, um explosivo contra uma multidão, seja de PM, seja de manifestantes, seja de quem for, está assumindo o risco de matar alguém”, afirmou, na terça-feira, o procurador Eduardo Lima Neto.
Também na terça, pela manhã, os advogados do estudante conseguiram um habeas corpus. Na decisão, o desembargador Paulo de Oliveira Lanzelloti Baldez afirma que nenhum artefato explosivo foi apreendido com Bruno e que a prisão em flagrante não tinha fundamento idôneo e concreto.
Outros vídeos mostram prisão
Bruno deu uma entrevista ao grupo Mídia Ninja falando do momento de sua prisão. "Foi na primeira hora que eles fizeram o pessoal correr. (...) Eu queria pedir pra vocês ajudarem a encontrar o vídeo onde eu corri da polícia, e me prenderam e disseram que eu estava com uma garrafa de molotov. Eu não estava", relatou.
E um vídeo acabou postado nas redes sociais. Nele, Bruno passa no canto direito do vídeo. Neste momento, não aparenta ter nada nas mãos, nem usa mochila. Um policial e um homem de camisa preta o perseguem. O cinegrafista amador corre para acompanhar a cena: mais à frente, o estudante cai no chão. Um policial chega e usa uma arma não letal contra o peito de Bruno. Ele parece estar desacordado. O vídeo termina com o estudante sendo carregado pelos policiais.
Em outras imagens, Bruno já aparece em pé, sem camisa, cercado por policiais, e com um colete de metal no peito. Um dos policiais militares acusa o rapaz: "Foi ele que tacou o primeiro coquetel molotov". Bruno responde: "Eu tava no posto".
Um policial pergunta para outro PM: "Ele é preso de quem?". "Foi o P2 que pegou ele", responde. P2 é como são chamados os policiais que trabalham sem farda, infiltrados entre os manifestantes.
Outra dúvida levantada sobre a prisão de Bruno diz respeito a uma mochila que teria sido usada para carregar explosivos.
A imagem de um dos vídeos mostra o momento em que a polícia encontra uma bolsa cheia de coquetéis molotov. O local fica a cerca de setecentos metros de onde Bruno foi preso. Imagens feitas por um cinegrafista da TV Globo mostram que, antes do início dos confrontos, o rapaz não estava com mochila.
"Eu não tenho mochila nenhuma. Eu acredito, como eu fiquei na frente lá, falei muito com testemunho, fiquei meio com o rosto marcado, entendeu? E eu não usei máscara, acho que não tenho motivo para usar máscara, no momento em que não tá errado", disse Bruno, na entrevista à Mídia Ninja.
Arte vídeos P2 (Foto: Editoria de arte/G1)
Redes sociais
Depois da manifestação de segunda (22), foram publicados vídeos e relatos publicados nas redes sociais que acusam a PM de ter infiltrado policiais sem farda no protesto para provocar tumulto. O relações-públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, se disse "enojado" com a acusação. Em nota, a PM disse que "imaginar que um policial vá atirar um coquetel molotov em colegas de profissão, colocando suas vidas em risco, é algo que ultrapassa os limites do bom-senso e revela uma trama sórdida para justificar a violência criminosa desses vândalos".
Abaixo, veja uma descrição dos vídeos publicados na internet e saiba o que disse a PM:
Vídeo 1: divulgado pela PM
No Twitter, a PM acusou manifestantes de atirar pedras e coquetel molotov em policiais (leia aqui) e divulgou um um vídeo (O G1noticiou o vídeo em g1.globo.com/rio-de-janeiro/protestos/2013/cobertura/nota/22-07-2013/130421.html). Nas imagens, é possível ver uma pessoa de camiseta escura, com estampa no meio e com o rosto coberto por um pano branco. Essa pessoa acende um artefato e o atira em direção aos policiais.
Vídeo 2: internauta mostra duas cenas diferentes
Um outro vídeo, que pode ser visto emyoutube.com/watch?v=7kkgK9eY7Lo, mostra uma suposta continuação dessa cena. A montagem começa com as imagens distribuídas pela PM, em que um homem posicionado entre os manifestantes acende e atira um artefato. Após um corte, outra cena mostra dois homens correndo em meio a policiais militares sem serem abordados e um deles tirando a camiseta escura, com estampa.
Vídeo 3: internauta mostra dois homens correndo
Um terceiro vídeo mostra dois homens correndo (veja em: youtube.com/watch?v=0vEnToPyex8). A sequência começa com um grupo de PMs se aproximando deles. Após uma conversa rápida, a dupla passa por vários policiais, sem ser perseguidos. Um deles está com camiseta escura e mochila e outro sem camisa.
Vídeo 4: internauta mostra PMs abordando dupla
Um quarto vídeo (link: youtube.com/watch?v=Bn1zpTvaWJ0) mostra aparentemente a mesma cena do terceiro vídeo, mas de outro ângulo e mais próxima. Dois homens de calça jeans, um sem camiseta e outro com camiseta escura e mochila nas costas, passam por um grupo de PMs e são abordados. Um militar fardado ordena: "Senta, senta!". Eles começam a se explicar. Um policial de outro grupo se aproxima e parece interceder pelos dois. Um dos dois homens tira algo do bolso e mostra aos PMs. É possível ouvir a frase: "É polícia, cara". Os ânimos se acalmam e os dois saem do local. O vídeo termina.
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