Ex-embaixador dos EUA diz que a Casa Branca ficou desapontada com a escolha de caças suecos
- Para Thomas Shannon, o serviço de inteligência do Brasil é pouco desenvolvido
WASHINGTON — Um dos braços-direitos do secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, o ex-embaixador americano no Brasil Thomas Shannon afirmou ontem que a Casa Branca está decepcionada com a escolha dos caças suecos na licitação da Força Aérea Brasileira (FAB). Para Shannon, que acompanhou a maior parte das negociações de Brasília, a Boeing fez excelente trabalho para vender os jatos F-18 e, por isso, os EUA estavam confiantes. Ele não descartou a conexão entre o escândalo de espionagem dos EUA contra brasileiros, inclusive a presidente Dilma Rousseff, e a derrota da Boeing.
— Obviamente, estamos muito desapontados com o resultado, estávamos esperançosos, porque a Boeing fez um trabalho magnífico. Mas dou meus parabéns aos suecos e à FAB, é algo que eles (da FAB) queriam há muito tempo.
A avaliação do Departamento de Estado dos EUA é que a escolha dos caças da Boeing traria mais ganhos para o Brasil, ao permitir a coprodução e a transferência de tecnologia de ponta. Porém, Shannon, que deixou o posto em Brasília em setembro para trabalhar como conselheiro sênior de Kerry, garantiu que o episódio não afetará a cooperação com o Brasil na área de Defesa:
— Isso não vai afetar nossa relação de longo prazo com a FAB, uma grande força; o brigadeiro (Juniti) Saito (comandante da Aeronáutica) é um grande homem, um bom amigo e está comprometido com a efetividade do processo (de compras da Aeronáutica) — afirmou o diplomata, em palestra sobre as relações Brasil-EUA no Brazil Institute do Wilson Center, em Washington.
Shannon admitiu que o caso Edward Snowden pode ter contribuído para a Boeing ter sido preterida na licitação:
— Você tem que perguntar ao governo brasileiro. O ministro Celso Amorim (Defesa) foi perguntado e disse que não — disse, dando de ombros.
O ex-embaixador reconheceu que a descoberta da vigilância de pessoas e empresas brasileiras, incluindo Dilma, impôs um freio às relações bilaterais:
— Reconheço a seriedade do assunto e o impacto na relação, especialmente na forma como os brasileiros entendem essa relação (...) Isso levanta diferentes imagens. O ex-chanceler Antonio Patriota disse que o caso impôs uma sombra à relação, outros falaram sobre confiança e respeito.
Aos olhos dos EUA, reação de Dilma ao pedido de asilo de Snowden foi positiva
Nesse contexto, foi positiva, aos olhos americanos, a reação de Dilma à carta de Snowden pedindo asilo no Brasil. Na quarta-feira, ela afirmou que o país não tem o que comentar a respeito.
— Estamos muito satisfeitos com a forma com a qual o governo brasileiro lidou com o assunto — disse Shannon.
Para Shannon, cabe à Casa Branca o esforço maior para distensionar o clima com o Palácio do Planalto, o que pressupõe a continuidade do diálogo entre os presidentes Barack Obama e Dilma e uma revisão dos procedimentos da NSA (Agência de Segurança Nacional americana). Porém, considerou que houve exagero na reação aos documentos vazados, fomentado pelo que considera “exploração política” do caso pelos apoiadores de Snowden. E sugeriu que a indignação brasileira foi ampliada porque o país tem um serviço de inteligência pouco desenvolvido:
— É algo (monitoramento) que o Brasil faz muito precariamente, por causa de sua história interna e do tamanho relativamente pequeno dos seus serviços de espionagem. O Brasil não tem um serviço de inteligência equivalente às suas ambições globais. Para tê-lo, precisa realmente construir relações com os serviços globais de inteligência capazes de ajudá-lo em certas coisas e de fornecer os serviços de que o país precisa — avaliou o ex-embaixador.
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