Corpo de Mandela chega a vilarejo em Qunu, onde será enterrado
- Arcebispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz e amigo de longa data do ex-presidente, não foi convidado para cerimônia
- Avião com o corpo deixou base aérea de Pretória esta manhã, onde ex-presidente sul-africano recebeu última homenagem
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O GLOBO
COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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PRETÓRIA — Aplaudido por uma multidão, o caixão de Nelson Mandela chegou neste sábado ao pequeno vilarejo de Qunu, onde o ex-presidente sul-africano nasceu e será enterrado, a 700 quilômetros ao sul de Johannesburgo. O trajeto, realizado em um carro fúnebre desde o aeroporto de Mthatha, foi acompanhado por uma escolta militar. A grande ausência da cerimônia, no domingo, será do arcebispo emérito Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz e amigo de longa data de Mandela. O religioso confirmou a notícia publicada na sexta-feira pelo jornal britânico “The Guardian”, que revelava que ele não havia sido credenciado. A presidência sul-africana, no entanto, garantiu que o arcebispo estava na lista de convidados para o sepultamento. Mais cedo, uma última homenagem aconteceu na base aérea de Waterkloof, em Pretória.
“Eu gostaria de assistir à cerimônia para dar um último adeus a alguém de quem gostava e apreciava, mas teria sido pouco respeitoso com “Tata” (pai, em xhosa) aparecer em algo que está planejado como um funeral privado da família”, afirmou Tutu em um comunicado divulgado neste sábado. “Se meu gabinete ou eu mesmo tivéssemos sido informados de que eu era bem-vindo, não perderia por nada no mundo.
Porta-voz do arcebispo, Roger Friedman se recusou a comentar as notícias que sugerem que ele foi excluído devido à atitude crítica em relação ao Congresso Nacional Africano (CNA), partido que Mandela levou ao poder em 1994. Na terça-feira, enquanto o religioso participava da homenagem ao ex-presidente, sua casa era assaltada na Cidade do Cabo.
Durante a manhã, a despedida liderada pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma, contou com a presença da viúva de Mandela, Graça Machel, e sua ex-esposa Winnie Madikizela-Mandela, após nove dias intensos de luto e atividades fúnebres. Nos três dias de velório em Pretória, de quarta a sexta-feira, mais de 100 mil pessoas ficaram por horas nas filas para dar o último adeus ao primeiro presidente negro da África do Sul e líder da luta contra o apartheid.
Mandla Mandela, neto do líder africano, fez um discurso em memória do avô e disse que “o futuro deste país é brilhante”.
- Fui testemunha de seu Exército, de sua gente, do povo. E posso garantir ao CNA que o futuro deste país parece brilhante - afirmou.
A cerimônia foi organizada pelo CNA. O caixão de Mandela chegou de carro, envolvido nas cores do partido que foi liderado pelo ex-presidente, em uma cerimônia na base da Força Aérea.
- Vá bem “Tata”, você fez sua parte - afirmou Zuma, que recordou a vida de Mandela como um combatente pela liberdade na luta contra a minoria branca. - Sempre vamos lembrar de você - disse, antes de gritar o slogan da luta do CNA: “Amandla” (poder).
Mandela será enterrado em uma cerimônia que vai combinar um funeral de Estado com rituais tribais tradicionais sul-africanos - que incluem o sacrifício de um boi - para assegurar que o ex-presidente tenha uma passagem tranquila para a vida após a morte. Muitos sul-africanos irão reverenciar Mandela, que durante a sua vida se tornou um símbolo mundial de reconciliação, também por acreditar que os ancestrais têm um papel de orientação e proteção sobre os vivos. Cerca de 46% da população do país praticam religiões tradicionais africanas, de acordo com uma pesquisa de 2010 feita pelo Fórum Pew, um grupo de pesquisa com sede em Washington, sobre Religião e Vida Pública
O líder africano, que pertencia à tribo abaThembu e foi o primeiro presidente negro do país, morreu há uma semana, aos 95 anos. Neste domingo, ele será enterrado seguindo os ritos funerários tradicionais em Qunu. Se os ritos não são realizados, os abaThembu acreditam que os mortos voltam em espírito para cobrar dos vivos.
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