sábado, 14 de dezembro de 2013

Filho de Carioca, antigo líder da Falange Gaúcha, é preso em Porto Alegre

Traficante comandou o Morro da Cruz durante os anos 1980 e foi um dos responsáveis pelo motim no Presídio Central de 1987

A Polícia Civil gaúcha prendeu na madrugada deste sábado (14) o ladrão de carros Denis Lucciano, filho de Humberto Luciano Brás de Souza, o Carioca, um dos líderes da Falange Gaúcha e principais criminosos dos anos 1980 do Estado. Denis estava no Boteco Tchê, bar localizado no bairro Cidade Baixa, quando foi surpreendido por agentes que o investigavam há dias.
— Ele era procurado desde março por diversos roubos a carros de luxo e suspeitas de homicídios. Ele seguia os passos do pai, só que foi para outro tipo de crime. Há relatos de pessoas no Morro da Cruz que choram só de ouvir falar nele — relata uma servidora da Delegacia de Homicídios da Capital, que não quis se identificar.
Segundo a polícia, Denis - assim como seu pai nos anos 1980 - era o dono do Morro da Cruz, comunidade da zona leste de Porto Alegre. Além de ser respeitado pela história criminosa da família, ele empregava a violência para ser temido.
— Quem fala dele, costuma ser assassinado — salienta a servidora da Polícia Civil ouvida por Zero Hora.
Carioca ficou conhecido no Rio Grande do Sul quando liderou, de dentro da cela, um motim no Presídio Central em 1987. Na ocasião, ele se uniu a bandidos como Vítor Paulo Mahus Fonseca, o Vico; José Astrogildo Pereira Fontella, o Professor, Dilonei Francisco Melara; Cézar Fernandes, o Baleia; e Jesus Aderbal Martins, o Toco. A rebelião foi um sucesso e oito presos conseguiram escapar.
Eles criaram a Falange Gaúcha, uma organização que seguia o modelo do Comando Vermelho, do Rio de Janeiro. A lógica era unir assaltantes e criminosos para comandar presídios e favelas por meio de um caixa comum, alimentado pelas atividades criminosas dos que estivessem em liberdade. O fundo servia não só para financiar novas fugas, mas igualmente para amenizar condições de vida no cárcere, principalmente por meio da compra de vantagens.
Liberdade não se mendiga
Após o motim no Presídio Central, o maior desafio para a polícia era a recaptura de Carioca. Ele havia voltado para o Morro da Cruz. No dia 31 de agosto de 1987, cerca de 500 policiais cercaram a comunidade e impediram a entrada e a saída de pessoas.
Um posto improvisado foi criado no alto do morro e, seguindo uma informação anônima, dezenas de policiais cercaram a casa de um advogado, no bairro Teresópolis, onde Carioca havia se escondido. O caminho foi aberto com uma rajada de metralhadora, disparada na porta.
Em questão de segundos, Carioca, que dormia ao lado de sua companheira, de apenas 15 anos, estava cercado. Assustada com os tiros, a mãe do advogado sofreu um ataque cardíaco fulminante. O traficante, enquanto isso, foi levado para a Delegacia de Capturas e preso novamente.
– Liberdade não se mendiga. Se conquista. Custe o que custar, vou fugir de novo – ameaçou ele.
A morte de Carioca
Recolhido à Penitenciária Estadual de Charqueadas (Pec), Carioca foi flagrado tentando subornar um policial militar em 1989 e não conseguiu fugir. Em um domingo de visitas, ele disse à companheira que iriam matá-lo. O traficante estava em uma cela de isolamento.
Ele foi encontrado depois enforcado com seu próprio cadarço de tênis, dentro da cela. A versão oficial era de que se matara, durante uma crise depressiva. Isso foi contestado depois. O Instituto Médico Legal revelou a existência de equimoses e 
escoriações (ferimentos). Ele deixou uma lista de pessoas que tinham a intenção de matá-lo.
Com a morte de Carioca, parte do Morro da Cruz ficou de luto. Ele foi velado em uma das casas da comunidade. Seu caixão percorreu as principais ruas da comunidade e foi saudado ao som de tiros de revólveres e rajadas de metralhadoras. O traficante era considerado um "Robin Hood".
ZERO HORA E DIÁRIO GAÚCHO

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