segunda-feira, 26 de agosto de 2013

— Na sua opinião, o governo brasileiro se portou mal no episódio? Não há nenhuma dúvida a esse respeito. Sou um crítico da falta de determinação da diplomacia brasileira nesse caso. Nossa diplomacia por vezes é muito companheira dos nossos vizinhos bolivarianos. Há um nítido viés ideológico nas relações. Acho um absurdo que o governo brasileiro, após conceder o asilo ao senador, não tenha se empenhado para obter o salvo-conduto.
— Na sua avaliação, faltou pressionar a Bolívia? O salvo-conduto é uma consequência natural do asilo político, que por sua vez é uma decisão unilateral do país que concede. Mesmo nos momentos mais duros das ditaduras sulamericanas, como a do Chile, nunca um salvo-conduto para o Brasil foi negado. O governo brasileiro deveria ter exigido da Bolívia o salvo-conduto. No mês passado, em encontro de cúpula do Mercosul, no Uruguai, os chefes de Estado do grupo aprovaram uma nota concluindo que o asilo é decisão soberana dos países. Referiam-se ao caso do Edward Snowden [ex-técnico terceirizado da CIA]. Entre os signatários está o Evo Morales. Por que as regras do asilo valem para o Snowden e não valeriam para o senador Roger? Não faz o menor sentido.
— Depois do desembarque em Brasília, o senador boliviano foi para um hotel?Chegamos à Capital na madrugada de sábado para domingo. Eu tinha oferecido minha casa para ele pernoitar. Ele tinha topado. Mas, no meio do caminho, falou com o advogado dele. E preferiu ir para a casa desse advogado.
— Então, ele tem um advogado em Brasília? Sim. Chama-se Fernando Tibúrcio. Peticionou em nome dele junto ao STF, pedindo providências ao governo brasileiro.
— O senador Roger Pinto responde a mais de 20 processo na Bolívia. É acusado de corrupção. Está seguro de que as acusações são falsas? Confio muito na avaliação do Eduardo Saboia. No caso dos torcedores corintianos, já libertados, ele tinha me dito que nenhum deles tinha envolvimento com a morte daquela menino boliviano, no estádio de Ururo. E o Saboia me passa a mesma segurança em relação ao caso do senador Roger. Ele está muito seguro, pelos dados que obteve, de que o senador é perseguido pelo governo do Evo Morales. Diz que as acusações que pesam contra ele fruto de disputa política. Ele é o líder da oposição. Não o conheço em profundidade. Mas pergunto: se ele fosse um criminoso, o governo brasileiro teria concedido o asilo político?
— Sobre o quê o sr. e o senador boliviano conversaram durante o voo de Corumbá até Brasília? Ele me pareceu em estado de choque. A ficha ainda não havia caído. Ele parecia ainda não acreditar na possibilidade de ser um homem livre. Me disse que contou os dias em que ficou retido numa sala. Foram 455 dias. Na cabeça dele, a estratégia do governo da Bolívia era vencê-lo pelo cansaço. Esperavam que ele não aguentasse e saísse à rua, para ser preso. É um homem de família, Batista, conservador. Sabe que terá de refazer a vida.
— O senador Renan Calheiros respondeu ao recado que o sr. deixara no sábado? Ele me ligou no domingo, quando tudo já estava resolvido. Contei rapidamente o que se passou. E ficou nisso.
— Não receia ser criticado por sua participação na fuga? De jeito nenhum. Não convivo muito bem com a omissão. Prefiro o erro à indiferença. E não creio ter cometido nenhum erro nesse episódio.

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